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Novos casos de hanseníase cresceram 5% de janeiro a novembro de 2023

Entre janeiro e novembro de 2023, o Brasil identificou pelo menos 19.219 novos casos de hanseníase, representando um aumento de 5% em relação ao mesmo período de 2022.

O Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase do Ministério da Saúde destaca que o estado de Mato Grosso continua liderando as unidades federativas com as maiores taxas de detecção da doença. Até o final de novembro, Mato Grosso registrou 3.927 novos casos, um aumento significativo de 76% em comparação com as 2.229 ocorrências do mesmo período de 2022. O Maranhão segue em segundo lugar, com 2.028 notificações, cerca de 8% a menos do que os 2.196 registros anteriores.

A Secretaria de Saúde de Mato Grosso atribui o aumento nos diagnósticos a uma política ativa de detecção, incluindo a capacitação dos profissionais de saúde. Outras unidades federativas também estão atualizando o cadastro nacional, indicando que o aumento de 5% pode ser ainda maior.

Os dados estaduais foram atualizados pela pasta, somando os diagnósticos de dezembro e outros ainda não reportados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), elevando o total de novos casos notificados em 2023 para 4.212.

O coordenador Nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Faustino Pinto, destaca que o aumento dos diagnósticos nos últimos anos é resultado da busca espontânea por serviços de saúde. Ele ressalta a falta de uma campanha nacional de esclarecimento, agravada pela pandemia da COVID-19 em 2020 e 2021, contribuindo para o aumento de casos diagnosticados tardiamente.

No boletim epidemiológico de janeiro de 2023, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde reconhece que a pandemia de COVID-19 apresentou um desafio adicional, demandando estratégias específicas para fortalecer as ações de controle da hanseníase.

A pandemia impactou negativamente nos novos diagnósticos e tratamento de pacientes com hanseníase, resultando em subnotificação e prognósticos mais desfavoráveis, conforme revelam os dados de 2019 a 2020, quando o total de casos diagnosticados diminuiu de 27.864 para 17.979. Em 2021, 11,2% dos 18.318 novos pacientes já apresentavam lesões graves nos olhos, mãos e pés no momento do diagnóstico.

A constatação é de que ainda não se atingiu os números pré-pandêmicos, indicando uma subnotificação persistente. A situação atual é considerada mais grave, pois a identificação apenas por demanda espontânea resulta em muitas pessoas não sendo tratadas a tempo de evitar sequelas neurológicas. Há também falhas nos esforços para interromper o ciclo de transmissão da doença. O tratamento oportuno é crucial, pois uma vez iniciada, a terapia impede a transmissão da bactéria causadora da hanseníase para outras pessoas suscetíveis.

A hanseníase, uma das mais antigas doenças a afetar o ser humano, é uma condição infecciosa e contagiosa que atinge a pele, mucosas e o sistema nervoso periférico, englobando nervos e gânglios. Apesar de ser passível de cura, a hanseníase pode ocasionar lesões e danos neurais irreversíveis se não diagnosticada e tratada adequadamente.

Os sinais e sintomas mais comuns incluem o surgimento de manchas, podendo variar entre brancas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas, além de áreas da pele com alteração da sensibilidade e comprometimento dos nervos periféricos, frequentemente associados a engrossamento da pele e alterações sensitivas, motoras e/ou autonômicas.

Outros indícios da doença compreendem áreas com diminuição dos pelos e do suor, sensação de formigamento e/ou fisgadas, principalmente em mãos e pés, além da diminuição ou perda da sensibilidade e/ou força muscular na face, mãos e/ou pés, e o surgimento de caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos avermelhados e dolorosos.

A grande maioria das pessoas expostas à bactéria Mycobacterium leprae não desenvolve a doença. O diagnóstico da hanseníase é realizado por meio de exames físicos gerais, dermatológicos e neurológicos. O tratamento, feito com medicamentos antimicrobianos, é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e não requer internação, sendo a duração variável conforme a forma clínica da doença.

Casos com suspeita de comprometimento neural, mas sem lesão cutânea evidente, e aqueles que apresentam área com alteração sensitiva e/ou autonômica duvidosa, sem lesão cutânea evidente, devem ser encaminhados para unidades de saúde mais complexas capazes de avaliar o quadro geral do paciente. Em crianças, o diagnóstico demanda avaliação criteriosa, dada a dificuldade na aplicação e interpretação dos testes de sensibilidade, sendo importante atenção especial para casos infantis, indicativos de transmissão ativa da doença, especialmente entre parentes. Pessoas convivendo com indivíduos portadores de hanseníase transmissível têm três vezes mais risco de desenvolver a doença, devido ao contato próximo e prolongado.

No Brasil, desde 2016, o mês de janeiro é dedicado à campanha “Janeiro Roxo” para conscientizar a população e as autoridades sobre a importância do diagnóstico precoce e combate ao preconceito contra a hanseníase. Embora oficializada pelo Ministério da Saúde, a iniciativa é principalmente realizada por estados e municípios. A Secretaria de Saúde do Pará (Sespa), por exemplo, promoverá um ciclo de capacitações para servidores estaduais e municipais durante todo o mês, visando um engajamento contínuo em 2024. Em 2023, o estado registrou 1.349 novos casos da doença, 100 a mais do que as notificações já lançadas no sistema do Ministério da Saúde. O coordenador do Programa de Controle de Hanseníase da Sespa, Luís Augusto Costa de Oliveira, destaca a necessidade de campanhas mais abrangentes para efetivamente enfrentar a hanseníase no país.

Fonte: Agência Brasil

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