Terapia com Células CAR-T: Uma Abordagem Revolucionária no Combate ao Câncer

A terapia com células CAR-T (receptor de antígeno quimérico) é um tratamento inovador no combate ao câncer. Nesse procedimento, os profissionais de saúde reprogramam as células do sistema imunológico para que elas possam identificar e atacar células cancerígenas com mais precisão.

Atualmente, a terapia com células CAR-T é utilizada no tratamento de alguns cânceres hematológicos, como leucemias e linfomas. No entanto, cientistas brasileiros estão investigando a possibilidade de expandir o uso dessa terapia para tratar outros tipos de câncer, como os tumores sólidos. Diversos centros de pesquisa no Brasil, como o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estão envolvidos no estudo e desenvolvimento de terapias avançadas como a terapia CAR-T.

Este artigo explica como funciona a terapia com células CAR-T, os possíveis efeitos colaterais associados ao tratamento e o processo de recuperação dos pacientes que passam por esse tipo de terapia.

O que é a terapia CAR-T?

As células T fazem parte do sistema imunológico e são um tipo de glóbulo branco com proteínas em sua superfície que funcionam como receptores.

Essas células T circulam pelo sangue, verificando substâncias estranhas, como vírus ou bactérias. Essas substâncias também possuem proteínas em suas superfícies, conhecidas como antígenos.

Os receptores das células imunológicas e os antígenos se encaixam como uma chave e uma fechadura. Cada substância estranha e célula T possuem antígenos ou receptores com formas específicas. Quando as células T se ligam aos antígenos que correspondem aos seus receptores, elas destroem a substância estranha.

As células cancerígenas também apresentam antígenos, mas, em muitos casos, as células T não possuem os receptores necessários para se ligarem a esses antígenos.

A terapia com células CAR-T é uma maneira de treinar o sistema imunológico para reconhecer e combater as células cancerígenas. Trata-se de uma terapia celular ou genética, em que cientistas adicionam receptores conhecidos como CARs (receptores de antígeno quimérico) às células T de uma pessoa. Esses novos receptores permitem que as células T se liguem aos antígenos presentes nas células cancerígenas e as destruam.

Cada tipo de câncer possui antígenos específicos, e os cientistas precisam adaptar o tratamento de células CAR-T para cada tipo de tumor, visando resultados mais eficazes.

A terapia CAR-T pode falhar?

As taxas de sucesso da terapia com células CAR-T variam dependendo do tipo de câncer que está sendo tratado. No caso de algumas formas de leucemia, estudos mostram que até 90% dos pacientes se recuperaram completamente após o tratamento com células CAR-T.

No entanto, a terapia ainda é relativamente nova. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou a primeira terapia com células CAR-T no Brasil em 2018, após a aprovação inicial nos Estados Unidos pela Food and Drug Administration (FDA) em 2017. Isso significa que, embora os resultados sejam promissores, ainda há muito a aprender sobre a eficácia e os melhores protocolos de tratamento dessa abordagem inovadora.

Quais tipos de câncer podem ser tratados com a terapia CAR-T?

Os profissionais de saúde podem recorrer à terapia CAR-T quando os tratamentos tradicionais contra o câncer, como a quimioterapia, não forem eficazes ou quando o câncer retornar. No Brasil, a terapia CAR-T tem sido utilizada com sucesso para tratar certos tipos de câncer hematológico.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou algumas terapias com células CAR-T para tratamento de linfomas e leucemias em determinados grupos de pacientes. As terapias aprovadas incluem:

  • Breyanzi: para adultos com linfoma de células B recidivante.
  • Tecartus: para adultos com linfoma de células do manto recidivante.
  • Kymriah: para pacientes com menos de 25 anos com leucemia linfoblástica aguda e adultos com linfoma de grandes células B recidivante.
  • Yescarta: para adultos com algumas formas de linfoma de células B recidivante.

Além disso, a terapia CAR-T está sendo investigada em uma série de ensaios clínicos no Brasil e em outros países. Atualmente, cientistas estão explorando o uso dessa terapia para tratar vários tipos de câncer, incluindo:

  • Câncer colorretal
  • Câncer de cólon
  • Câncer de ovário
  • Câncer pancreático
  • Câncer de fígado
  • Câncer de pulmão
  • Leucemia linfoblástica aguda
  • Linfoma não-Hodgkin
  • Leucemia mieloide aguda
  • Mieloma múltiplo

Esses estudos em andamento podem abrir portas para novas possibilidades de tratamento com células CAR-T para muitos tipos de câncer, expandindo o alcance dessa terapia inovadora.

Processo de tratamento

De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia, o tratamento com células CAR-T pode levar algumas semanas para ser concluído. O processo consiste em três etapas principais:

1. Coleta de células T

Os profissionais de saúde coletam as células T através de uma linha intravenosa (IV). Esse procedimento pode levar de 2 a 3 horas. O sangue fluirá do corpo do paciente para uma máquina que removerá as células brancas do sangue, sendo as células T um tipo de célula branca. Após a remoção, a máquina devolverá o restante do sangue por outra linha intravenosa.

2. Produção de células CAR-T

Depois de coletadas, as células T serão enviadas para um laboratório, onde os cientistas as separarão das outras células brancas do sangue. Em seguida, adicionarão os receptores CAR (receptores de antígenos quiméricos) às células, criando as células CAR-T. O processo de multiplicação dessas células até que estejam prontas para combater as células cancerígenas pode levar algumas semanas.

3. Infusão de células CAR-T

A próxima etapa consiste na infusão das células CAR-T na corrente sanguínea do paciente através de outra linha intravenosa. Em alguns casos, os profissionais de saúde podem recomendar a administração de quimioterapia antes da infusão, para preparar o sistema imunológico do paciente para as novas células CAR-T.

Efeitos colaterais

A terapia com células CAR-T pode causar alguns efeitos colaterais, sendo o mais comum a síndrome de liberação de citocinas (CRS, na sigla em inglês).

As citocinas são mensageiros químicos no sistema imunológico que ajudam a ativar as células T. Quando as células CAR-T entram no corpo, as citocinas se multiplicam, o que pode levar a uma superprodução delas. A CRS pode causar sintomas leves, como:

  • Náusea
  • Fadiga
  • Dor de cabeça
  • Calafrios
  • Febre

Em alguns casos, a CRS pode causar sintomas mais graves, como:

  • Pressão arterial baixa
  • Batimento cardíaco acelerado
  • Parada cardíaca
  • Insuficiência cardíaca
  • Hipóxia (falta de oxigênio nos tecidos do corpo)
  • Função renal prejudicada
  • Falência múltipla dos órgãos

Além disso, a CRS grave pode levar a problemas neurológicos, como:

  • Deficiência na fala
  • Confusão
  • Delírio
  • Espasmos musculares involuntários
  • Alucinações
  • Falta de resposta
  • Convulsões

A CRS grave pode ser muito perigosa, e os pacientes que apresentarem esses sintomas graves precisarão de tratamento imediato, frequentemente em unidade de terapia intensiva (UTI). Embora a maioria dos sintomas seja reversível, a CRS pode, em casos raros, ser fatal.

Recuperação

Após o tratamento com células CAR-T, as pessoas geralmente precisam ficar no hospital para observação. O tempo de observação varia de acordo com a instituição, mas, em geral, dura algumas semanas.

Os efeitos colaterais podem surgir entre 1 e 21 dias após o tratamento. Além disso, as pessoas têm um risco maior de infecção nos 28 a 30 dias seguintes à infusão das células CAR-T.

Resumo

A terapia com células CAR-T é um tratamento inovador contra o câncer, no qual o sistema imunológico é treinado para combater as células cancerígenas. Nesse processo, cientistas modificam geneticamente as células T para que elas possam identificar e destruir as células tumorais. Embora o tratamento tenha mostrado eficácia, ele também apresenta o risco de efeitos colaterais graves.

A terapia com células CAR-T é um tratamento relativamente novo, atualmente disponível apenas para alguns tipos de câncer hematológico. No entanto, centenas de estudos clínicos estão sendo conduzidos no Brasil e ao redor do mundo, investigando o uso dessa terapia em outros tipos de câncer, como os tumores sólidos.

A terapia celular CAR-T Cell tem obtido resultado importante no tratamento de alguns tipos de câncer, por meio da reprogramação das células de defesa do corpo. A tecnologia celular CAR-T é um tipo de imunoterapia que utiliza linfócitos T, células do sistema imunológico responsáveis por combater agentes patogênicos e células infectadas.

O tratamento consiste em retirar e isolar os linfócitos T do paciente, ativá-los, programá-los para conseguirem identificar e combater o câncer e, depois, inseri-los de volta no organismo do indivíduo. Todo o processo pode durar cerca de dois meses. A terapia é feita por meio de infusão intravenosa.

O termo CAR é um acrônimo em inglês para chimeric antigen receptor (em português, receptor quimérico de antígeno). O T é referente ao linfócito T. A célula CAR-T é um linfócito T que passou por modificação genética.

Atualmente, de acordo com o Hospital A.C. Camargo, centro de referência no tratamento de câncer, as indicações já aprovadas e com uso vigente no Brasil são para pacientes com linfoma difuso de grandes células B (tipo de linfoma não Hodgkin) e leucemia linfoblástica aguda, ambas no cenário recidivado ou refratário da doença. Na saúde pública, a terapia celular ainda está em fase de desenvolvimento no país. 

São Paulo (SP) - Com a terapia celular CAR-T Cell, o paciente Paulo Peregrino, 61 anos, teve remissão completa de um linfoma em apenas um mês. Foto: Arquivo pessoal
Com a terapia celular CAR-T Cell, o paciente Paulo Peregrino, 61 anos, teve remissão completa de um linfoma em apenas um mês. Foto: Arquivo pessoal

Como efeito colateral, pode haver uma reação inflamatória, com possibilidade de febre, queda da pressão arterial e necessidade de internação em unidade de terapia intensiva (UTI).Segundo especialista ouvido pela Agência Brasil, os efeitos colaterais podem levar pacientes à morte. 

Ainda segundo informações do A.C. Camargo, nas primeiras semanas após infusão das células CAR-T, o paciente pode apresentar alguns sintomas neurológicos, que vão desde um quadro mais leve de confusão mental até a presença de crises convulsivas.

Diferença entre tratamentos

A quimioterapia consiste na aplicação de medicamentos para destruir as células que formam os tumores, atuando em diversas etapas do metabolismo celular, explica o A.C. Camargo. A imunoterapia é uma forma de tratamento que estimula o sistema imunológico do paciente para que ataque as células do câncer.

Já o tratamento com as células CAR-T é uma modalidade da imunoterapia, mas que utiliza células de defesa que passaram por modificação genética e foram reprogramadas em laboratório para atingir os tumores.

Fonte: Agência Brasil

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